sábado, 18 de agosto de 2012

Dez comportamentos desmotivantes no Agility!

Este texto foi traduzido por Ricardo Duval.

Tomei a liberdade de fazer uma tradução livre de um capítulo do livro da
Laurie Leach, the intemediate's guide to dog agility e achei importante
mandar para vocês para que, se quiserem, coloquem em prática e passem
aos seus alunos e amigos.

Por que eu escolhi esse capítulo? Não é porque ele tem os conceitos
técnicos mais importantes, pelo contrário, ele trabalha com a parte
motivacional e o que nós fazemos errado, mesmo sem sentir, que estraga a
vontade de nossos companheiros de brincar conosco.

Lembrem-se que ao fim e ao cabo, o agility para o cão é só uma
brincadeira, muito divertida, mas uma brincadeira. Percurso, medalha,
troféu, prêmio, isso tem valor para nós, só o que eles querem é brincar
com quem é mais importante para eles.

Abs,
--
Ricardo



Capítulo 21 - Problemas Motivacionais


Quando publicava uma coluna sobre agility em uma revista de animais de estimação, costumava receber vários e-mails parecidos com esse: “Quando meu cachorro começou era louco por agility e era realmente rápido. Mas agora ele mal quer entrar em um circuito e eu tenho que implorar para que ele faça um salto. O que aconteceu de errado?”.

Nenhum de nós quer desmotivar nossos cães em relação ao agility, mas algumas vezes é o que inadvertidamente fazemos. Há dez comportamentos que algumas vezes os condutores praticam que fatalmente desencorajam seus cães. Neste capítulo consideraremos quais são esses comportamentos e como preveni-los.

Aprendendo a dançar


Antes de pensar em nossos cães, vamos imaginar que você começou a praticar uma atividade nova, digamos, dança de salão. Você não sabe absolutamente nada sobre dança de salão, mas alguém te disse que era divertido, então você se inscreveu em um curso para iniciantes.

Nas suas primeiras aulas você estava realmente excitado e se divertiu muito. Mas então, de repente, os movimentos começaram a ficar um pouco mais complexos. Em alguns momentos você errou e seu parceiro suspirou aborrecido, emburrou a cara e sacudiu a cabeça desanimado. Seu parceiro quer que você acerte, então ele exige que você faça o mesmo movimento, uma, duas, três, mil vezes. Ele exige tanto que até se esquece de elogiar ou te dar algum reforço quando você acerta algo e mostra algum progresso. Para piorar a dança vai ficando mais e mais difícil a cada semana, embora nem você nem o seu parceiro se sintam confiantes sobre os passos básicos. Ao invés de se orgulhar das suas novas habilidades, você se sente perdido e preocupado em cometer algum erro. Quando o curso de iniciantes termina (se é que você chega ao final), você decide que dança de salão não é para você e que afinal deve tentar alguma coisa menos estressante.

As chances são grandes de que cada um de nós tenhamos experimentado algo semelhante com nossos cães. É sempre bom refletir, mesmo porque alguma vezes os condutores agem exatamente como o parceiro insatisfeito de dança de salão, sem nem ao menos pensar no impacto dessa atitude sobre o cão.

Cães são animais bastante sensíveis e respondem exatamente como nós responderíamos quando em algum ponto decidem que não gostam mais da brincadeira de agility. Da mesma forma que nós, os cães aprendem a adorar uma atividade na qual eles se sintam encorajados e realizados, mas rapidamente perderão o interesse se se sentirem desencorajados, ansiosos ou se perceberem que a atividade simplesmente não os recompensa o suficiente.

Desânimo e ansiedade se mostram de várias formas nos cães e os comportamentos incluem: recusar-se a correr, perder a velocidade, fugir, correr em círculos ou parar para farejar. Se o seu cão está apresentando algum desses comportamentos, dê um tempo. Leia esse capítulo com a mente aberta e pense no que você pode estar fazendo para desmotivá-lo. Mude de estado de espirito imediatamente e torne-se um parceiro com o qual VOCÊ gostaria de dançar.

Dez comportamentos desmotivantes


Quando você ler essa lista de dez coisas que você pode estar fazendo para tornar o agility menos divertido para o seu cão, é provável que VOCÊ se sinta decepcionado. Se ler um ou mais itens dessa lista e se identificar, não se martirize. Todos, até mesmo o melhor do mundo, seguiram algum caminho incorreto algumas vezes. Motive-se e trace um plano para mudar seu comportamento. A maioria dos cães é resiliente e novamente se sentirão motivados se você deixar bem claro que quer que voltem a se divertir juntos.

1) Reagir negativamente

Cães são experts em linguagem corporal. Seu cachorro lê seus movimentos e suas expressões faciais a cada momento. Ele conhece cada tom da sua voz e sabe quando você está feliz. Da mesma forma ele sabe quando você está aborrecido, mas ele não sabe distinguir quando você está chateado consigo próprio ou com ele.

Quando aprendemos o agility, frequentemente cometemos erros de condutor, o que é da natureza do jogo. Nós mandamos nossos cães para obstáculos errados, ou giramos muito rápido e ele perde um salto, enfim, há centenas de possibilidades. Mantenha em mente que isso só é um erro na SUA cabeça, não na do seu cão, simplesmente porque ele não sabe qual é o percurso correto. De forma muito curiosa, isso é um conceito difícil de ser compreendido por algumas pessoas.

A questão é: o que você faz quando alguma coisa não acontece como você planejou? Por exemplo, suponha que você deveria comandar seu cão para o túnel, mas sem querer você o conduz para um salto. Muita gente pragueja, grunhe, xinga, soca a perna, etc. Quando você reage dessa forma, o cão imediatamente pensa que fez algo errado, quando na realidade tudo que ele fez foi interpretar o que você queria.

Toda vez que você demonstra irritação física ou verbal no agility, você mina a confiança do seu cão. A dúvida que você criou volta à sua cabeça canina na próxima vez que o mesmo obstáculo ou situação se repete: “Passarela? Ele apontou a passarela? Será que eu estou ouvindo certo? Ele vai ficar zangado de novo?”. Repita esse mesmo comportamento mais algumas vezes e em obstáculos diferentes e toda a brincadeira se transforma rapidamente em uma fonte de ansiedade.

Solução

Permaneça feliz. Ria dos seus erros. Não é fácil, mas lembre-se que sair do percurso é algo que tem valor para nós, humanos, o seu cão só está fazendo o que ele acha que você quer. Se ele errar um salto, diga alegremente: “vamos tentar de novo?”. Se ele continuamente erra o mesmo percurso, peça-o para fazer algo simples, como sentar, e dê-lhe uma recompensa. Somente então reestude o que pode ser feito para conseguir a performance que você queria e, quando ele acertar, recompense, recompense, recompense.

2) Abandonar o seu cão

Cães são animais sociais e o isolamento é sempre uma experiência negativa para eles. Ainda assim, eis um cenário muito comum em aulas de agility: a dupla está correndo um percurso quando alguma coisa de “errado” (para nós) acontece. O condutor para de correr e anda em direção ao instrutor para discutir o que se passou. Ao fazer isso, ele simplesmente deu as costas ao cão e se afastou, deixando o animal vagar ou farejar.

Pense novamente na sua experiência da dança de salão e imagine que segundo a visão do seu par você tenha cometido um erro. Sem te dizer nada, seu parceiro para de dançar, vira as costas e se dirige ao professor. Você é deixado no meio do salão, como um bobo, sem ter a mínima ideia do que aconteceu de errado. É exatamente assim que seu cão se sente.

Solução

Se você quer ou precisa parar no meio de uma sequência ou percurso, chame gentilmente seu cão, peça-o para fazer algo fácil, como sentar ou deitar, dê-lhe um petisco por esse truque e prenda-o na guia. O reforço e prender a coleira – se feito sem nenhuma linguagem corporal ou vocal negativa – mantêm o vínculo cão-condutor intacto. Somente então vá falar com o instrutor.

Se você for um instrutor, considere implementar uma regra em suas aulas na qual os estudantes só podem discutir um aspecto do treino depois que tiverem reforçado seus cães pelo esforço e os prendido na guia.

3) Exigir muito muito rápido nas aulas

Dada a natureza viciante do agility, é muito fácil exigir muito do cão de várias maneiras. A primeira delas é querer que o cão realize sequências muito longas para seu nível de confiança. Isso é geralmente o resultado de colocar o cão em uma classe que é mais avançada do que o seu grau de maturidade permite e esperar que ele pegue o ritmo. Dado que ele não vai estar seguro do que está fazendo, vai se tornar ansioso e tenderá a desistir no meio das sequências.

Solução

Se você está em uma turma que está mais avançada que o nível de habilidade do seu cão, faça somente a parte dos exercícios apropriadas para seu cão. Isso exige um tremendo autocontrole de sua parte. Feito isso, busque uma oportunidade, em outro momento, para sozinho ensinar ao seu cão esses novos desafios utilizando os métodos discutidos nesse livro.

4) Exigir muito muito rápido em competições

A participação em competições é algo muito intenso para os cães. Centenas de cachorros desconhecidos e muitas horas em um cercado ou uma caixa, rodeado por estranhos, cobram seu preço. Frequentemente observo cães que fizeram uma excelente primeira perna, terem uma performance mais triste na segunda perna ou no dia seguinte.

Solução

Faça somente uma perna inicialmente. Escolha a competição mais fácil para o seu cão, como um percurso de jumping, por exemplo. Considere participar somente por um dia nas suas primeiras competições. Gradualmente aumente o número de pernas e dias conforme sinta o seu cão feliz e confiante no que está fazendo.

5) Esquecer-se de brincar

No começo do treino de agility a maioria dos condutores é encorajado a usar brinquedos para recompensar seus cães. Os cães fazem cabo de guerra entre os exercícios ou ganham suas bolas depois de sair de um túnel. Conforme avançam, os brinquedos desaparecem. De fato, é comum que quanto mais exijamos de nossos cães, menos os reforcemos de modo geral.

Solução

Leve os brinquedos do seu cão para cada aula e cada competição. Brinque antes dele competir. Surpreenda-o com o arremesso do seu disco favorito ou da sua cordinha no meio de uma sequência longa durante os treinos. Seja um parceiro divertido e surpreendente.

6) Ser previsível com as recompensas durante os treinos

Em capítulos anteriores discutimos o perigo de recompensar o cão somente ao fim de cada sequência em treinos, mas vale ser chato e repetir a questão: por que santo motivo um cão correria se ele só recebe seu petisco ou brinquedo depois do último obstáculo de uma sequência?

Solução

Seja surpreendente. Reforce uma performance muito boa em qualquer ocasião. Recompense se ele for veloz. Recompense por uma cruzada pela frente. Recompense-o por brincar entusiasmadamente com você. Embora isso parece óbvio, normalmente percebo que os estudantes tendem a praticar o padrão de “reforço no fim” a não ser que eu repetidamente os lembre. A qualquer momento que seu cão fizer algo difícil ou superar a tentativa anterior, pare e o recompense.

7) Recompensar performances lentas

Depois de todo o papo sobre recompensa, esse tópico pode parecer contraditório, mas não é. A única coisa que você não deve reforçar é um comportamento mais lento do que você gostaria e que você sabe que seu cachorro é capaz de fornecer. É muito fácil ensinar a um cão que na verdade você quer que ele vá mais devagar. Tenho visto muito frequentemente várias pessoas recompensando cada sequência, mesmo quando seu cão é muito vagaroso. Desta forma os cães aprendem que eles podem gastar menos energia e ainda assim receber seu petisco só fazendo o mínimo indispensável.

Solução

Se o seu cão está agitado no começo do treino, pare antes que ele fique lento. Diminuir a sua sessão de treino a fim de parar antes que seu cão canse demanda uma autodisciplina muito rígida.

Alguns cães se esgotam mentalmente muito antes de se cansarem fisicamente. Se o seu cão consistentemente perde velocidade, experimente várias táticas para excitá-lo. Se ele é obcecado por comida, compre em petshops uma sacola especial que pode ser recheada de petiscos e encha-os com iguarias deliciosas. Use-a para atiçá-lo antes da sequência e o surpreenda jogando-a cada vez que ele acelerar. Depois de arremessar a sacola, corra para ela, abra-a e deixe-o pegar um alguns petiscos diretamente. Se ele gosta de brinquedos, excite-o antes, durante e depois de um percurso.

8) Retardar petiscos em competições

Constantemente me surpreendo que as pessoas saiam do circuito e se vão com seus cães, sendo que os coitados não recebem nada além de um “muito bem”. No momento em que a dupla chegar à sua barraca, o percurso já vai ser uma memória distante para o cão.

Solução

Cada associação define uma distância legal do circuito onde os participantes podem deixar seus brinquedos e petiscos. Descubra essa distância e coloque sua cadeira com seus petiscos e brinquedos o mais próximo possível. Assim que colocar a guia no seu cão e sair do circuito, corra para sua cadeira e faça uma verdadeira festa com seu cão. Não fale com ninguém antes de mostrar ao seu companheiro o quão feliz você se sente com o seu esforço.

9) Comunicando a ansiedade

Nem todos temos personalidades divertidas. Infelizmente percebo que pessoas que riem pouco ou parecem mais tensas tem cães que não possuem boa performance. Condutores tristes ou ansiosos normalmente têm cães tristes e ansiosos. O fator diversão é baixo e os cães rapidamente percebem isso.

Solução

Pense no agility como uma experiência de engrandecimento pessoal. Sorria para seu cão. Seja brincalhão de maneiras que não seriam naturais para você. Deite e role na grama com seu companheiro. Ensine ao seu cão truques interativos, como fazer slalon por baixo das suas pernas, de forma que vocês se mantenham ocupados e se divirtam.

10) Treinar em excesso

Durante os treinos de agility há situações em que você está praticando um novo movimento de condução. Por exemplo, você pode estar trabalhando nos exercícios de serpentina. Você se engaja em realizá-lo perfeitamente e exige que seu cão repita o exercício vezes sem fim.

Solução

Geralmente três ou quatros repetições de um exercício são suficientes. Se você realmente considera que precisa de mais repetições, dê um tempo e faça uma sequência diferente ou brinque de outra coisa com seu cão. Quando ambos estiverem relaxados, tente novamente mais umas poucas vezes e encerre o treino. Termine todo e qualquer treino com seu cão feliz e querendo mais.

Conclusão


Se seu cão é motivado a brincar de agility com você, isso é uma grande dádiva. Tenha em mente quando você treina ou compete que qualquer interação com seu cão pode motivá-lo a brincar cada vez mais ou desanimá-lo completamente. Se você conseguir praticar os comportamentos positivos descritos nesse capítulo, você sempre terá um companheiro entusiasmado pelo esporte. De fato, você deve ser o melhor “companheiro de dança” que seu cão poderia querer.



Fonte: Leach, Laurie. The intermediate's guide to dog agility. TFH Publications, Inc. 2010

2 comentários:

  1. Adorei! Vou tentar sempre lembrar destas orientações! Muito obrigada bjs

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    1. Eu tb Ana,vou tentar me policiar mais,eu quando li me vi em varias da quelas situações .

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